terça-feira, 29 de maio de 2007

Recado nocturno para a minha solidão

Mesmo que a cinza cresça na ferocidade implacável dos dias, antecipar-te-ás ao momento em que te quis como ao miolo da fruta madura.
Instalei-me aqui, no ar - equinócio da tua existência - e vivi antes de conseguir respirar. Assim como o tempo se cansa do tempo que dura, talvez (também) me canse de ser carne moída da dor carpida ao luar dos meses ímpares.
Procuro-te no fundo da cinza dos dias. Procuro-te no lado direito da solidão de Marte, ao lusco-fusco.
Talvez amanhã seja cedo para te lembrar. Talvez amanhã seja cedo para te esquecer. Talvez entre luz pela minha memória e Marte deixe de brilhar tão perto.

Pronto, este era um daqueles recados nocturnos incompreensíveis que uma mulher escreve sem saber que escreve e depois, às vezes, com sorte, muito tempo volvido... percebe (ou tem a mania que percebe) a natureza desse momento. Porque há momentos que se prolongam muuuuiiito para além do pensamento. E os meus brotam das pontas dos dedos... demoram a chegar à compreensão.

1 comentário:

Fausta Paixão disse...

gostei. verdadeiramente.