terça-feira, 17 de julho de 2007

coisas

Mudei de casa. Ou seja, regressei a Casa (da mamã).
Começo a minha adaptação ao isolamento que um mês e meio do mapa profundo de África me irá proporcionar. mas por enquanto, ainda consigo dar umas escapadelas ao meu ex-local de trabalho e entrar nesta maravilhosa sala de chuto da comunicação.
De resto, também não tenho o que escrever.
Vou fazer planos para o trabalho de voluntariado, com a firme convicção de que de nada me servirão. Mas vou.
E basicamente era só para dizer que vou estar alheada disto por uns meses.
(caso alguém tenha entrado no tortuoso caminho da angústia, provocada pela ausência das minhas palavras, pode agora sossegar:).

terça-feira, 10 de julho de 2007

Amélia

Amélia levantou-se sem vontade. Percebeu que não queria tomar banho, não queria comer, não estava para conversas, não queria trabalhar e não queria pensar nas coisas que lhe poderia apetecer fazer. No entanto, levantou-se, aniquilou a preguiça e empurrou à sua frente a iniquidade de mais um dia.
Nesse dia, soluçou banalidades na presença de pessoas, ouviu as dificuldades de um ou dois amigos, e dois ou três disparates anónimos, gastou tempo ao telefone, disse que sim a uma proposta (perfeitamente dispensável) a que só queria dizer não, concordou com pessoas que despreza (para algumas até sorriu) e quando voltou para casa, ignorou o sofá, ignorou o marido, ignorou os filhos, ignorou o cansaço, mas não soube ignorar o pó, a roupa por lavar, o jantar… Antes de dormir repetiu três vezes, em frente ao espelho, que era feliz. Respirou fundo e enfiou-se na cama sem um pensamento que a perturbasse.
Conheço Amélia. Amélia acredita que é feliz. E essa crença críptica, descodificada por um espelho é, de facto, o início dessa felicidade. Todos os dias uma vontade de vida se apodera dela. Todos os dias essa vontade se sobrepõe à falta de vontade de fazer as coisas que faz. Todos os dias, Amélia é feliz. Amélia tem uma necessidade básica - a felicidade - e assume as despesas desse compromisso diário.
Um sentimento próximo da inveja toma conta de mim. Não direi sempre, mas pelo menos uma vez por semana gostava de ser Amélia. Não para fazer coisas que me desagradam (porque nisso sou perita), mas para conseguir ser feliz, ou dizer que sou feliz, enquanto me vejo envolvida por essas contrariedades.
Não consigo. Detesto a incoerência e o “faz de conta que corre bem, para não veres o que corre mal”.
Essas coisas que faço para matar tempo ou para matar as etapas da edificação das relações matam-me todos os dias um pouco. Não suporto os gestos consentidos, só para evitar constrangimentos, ou o nível de condescendência que invariavelmente me imponho com os meus interlocutores. Não me fazem mais feliz, estas coisas que faço todos os dias sem vontade. Não tenho um espelho que me suporte a mentira da felicidade confessa. Quero aprender a dizer “não” sem que isso me angustie. Mas, por muito que ensaie, só me saem “nãos” às pessoas indevidas, ou àquelas a quem sei que têm a capacidade de suportar todos os meus surtos de mau feitio declarado e que terão a capacidade de me acompanhar até ao mais inesperado “sim”.
Encravou-se-me na garganta um “não” de uma obesidade mórbida. Sei que o hei-de expulsar, só não sei se o farei na direcção certa.
Dedico estas palavras às pessoas, cuja paciência e o companheirismo nunca se abalaram com os meus tumultos. Dedico-as a todos os nomes inscritos no meu império de sensações, a memória. E a uma ou outra Amélia, que resiste à contemplação dos seus dias tortuosos, apesar do culto dos espelhos.

Não sei

Acordo e faço-me perguntas para as quais tenho sempre uma resposta pronta e categórica: não sei.
Não sei das pessoas, não sei das emoções, não sei dos lugares, não sei do tempo, não sei de mim.
Não sei o que será de mim e nem sei dizer se isso me preocupa. Tenho alguns planos, muitos até, e por serem tantos há outras tantas possibilidades de os não traçar.
Vou para África. Já disse isto?! (mas isso não é um plano é um projecto de vida).
Há poucos meses, lugares como Boé, Gabú ou Béli nem chegavam a ser nomes. Agora, pouco passam de nomes, mas são talvez as palavras que mais digo, penso e enfio nos sonhos. Nomes cheios de lugares e pessoas e momentos e medos que eu não conheço, que talvez não compreenda.
Há dúvidas que me fazem falta, quanto mais não seja, porque o percurso da dissipação é necessário. Assim como há uma certa ignorância que não me esmaga.
Não sei bem porque digo isto, mas talvez se avizinhe a experiência mais definitiva da minha vida e eu... a modos que, se me perguntarem o que sinto sobre isso... Não sei.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Antítese

Estou a mudar de casa.
Sim, é isso: no momento em que escrevo, não estou a escrever porque não tenho tempo para isso.
Apetece-me abrir a janela e atirar três dos seis sacos de lixo preto (tamanho grande) e vê-los estatelaram-se à grande na cabeça do... (ainda esta coisa do GNR, mas já me passa), só que gosto bastante do conteúdo e também não vou arriscar mais uma multa esta semana.
É incrível, a quantidade de coisas inúteis que insisto em carregar atrás de mim.
Devia ter ido trabalhar para o local de trabalho, onde as pessoas normalmente trabalham ou fingem que trabalham, mas recusei-me (pelo segundo dia consecutivo). Ontem porque estava chateada e hoje porque estou aborrecida e atarefada a mudar de casa. Motivos mais do que suficientes, parece-me.
Há outros que não vou revelar.
O dia hoje já vai muito longo, já me fartei de trabalhar e até já escrevi uma reclamação no livro de reclamações do posto da GNR local. O senhor agente não gostou, mas sorriu.
Se eu fosse o Bagaço, escrevia o diálogo... Como não sou, vou pôr livros em caixotes.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Homens que não me compreendem:

UM.
Mas não conta, porque é um GNR cá da terrinha que, embora se comporte como tal, não usa bigode, movimenta-se num cu de arroz próprio da classe e, entre uma ou duas palavras imperceptíveis, conseguiu lixar-me a disposição e as férias.
Como diria o outro: Foda-se! (baixinho, que há quem queira dormir).

terça-feira, 3 de julho de 2007

Livro do Génesis, 3,1

A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o SENHOR Deus fizera; e disse à mulher:
- «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?»
A mulher respondeu-lhe:
- «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim,
Deus disse:
- “Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis.”
A serpente retorquiu à mulher:
- ‘Não, não morrereis; porque Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal”.»Vendo a mulher que o fruto da árvore devia ser bom para comer, pois era de atraente aspecto e precioso para esclarecer a inteligência, agarrou do fruto, comeu, deu dele também a seu marido, que estava junto dela, e ele também comeu.Então, abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam nus, coseram folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas, como se fossem cinturas, à volta dos rins.Ouviram, então, a voz do SENHOR Deus, que percorria o jardim pela brisa da tarde, e o homem e a sua mulher logo se esconderam do SENHOR Deus, por entre o arvoredo do jardim.Mas o SENHOR Deus chamou o homem e disse-lhe:
- «Onde estás?»
Ele respondeu:
- «Ouvi a tua voz no jardim e, cheio de medo, escondi-me porque estou nu.»
O SENHOR Deus perguntou:
«Quem te disse que estás nu? Comeste, porventura, da árvore da qual te proibi comer?»
O homem respondeu:
«Foi a mulher que trouxeste para junto de mim que me ofereceu da árvore e eu comi.»
O SENHOR Deus perguntou à mulher:
- «Por que fizeste isso?»
A mulher respondeu:
«A serpente enganou-me e eu comi.»

O Epígono do Lobo Antunes

Foi muito bem escolhido o nome deste personagem do novo livro do José Luís Peixoto, “Hoje não”, ainda não acabei de ler, mas assim de papo pró ar ou de barriga para baixo numa praia qualquer, onde o sol espreitava… não me estava a desagradar nadinha.
Claro que, mais uma vez, fiquei sem o livro. Acontece-me muito isto com o JLP… Juro que não o enterrei na areia!

copy, paste...

Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te
Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te
Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Conjugação perifrástica

Há pessoas de quem gostamos muito que passam dias, semanas, meses sem nos enviarem um sms e nós continuamos a gostar delas. Depois há aquelas de quem também gostamos muito, mas não admitimos um dia inteiro de silêncio. Contudo, insistimos em continuar a gostar delas.:-)

O amor, esse micróbio!

O tema tem longas barbas brancas entrançadas a varrer o chão. (Facto).
Qualquer alfabetizado consegue elaborar uma frase sobre a questão e fazer com que ela corra mais ou menos bem, fazendo sempre algum sentido para alguém. (Facto).
Eu nem queria falar sobre isso.
Facto.
Cerca de 90% daquilo que escrevo é sobre esse micróbio parasita das emoções. E sempre que me apaixono e desapaixono (ou vejo isso a acontecer a alguém) não paro de me surpreender com a total ausência de aprendizagem sobre o assunto. Sei que tudo o que vivi e disse de nada me servirá, quando (e se) me voltar a acontecer. (Facto verificado várias vezes, felizmente).
Já disse neste blog e repito: para o fim nunca nos conseguimos preparar.
E, em meu entender é só (!?) esse o problema do amor, seja ele de índole romântico, fraterno ou tenha o conforto inestimável e insubstituível da amizade.
Passar pelo fim de uma relação de amor é sem dúvida devastador. Mas assistir de microscópio ao estrebuchar do micróbio no corpo de alguém que amamos… pode ser duplamente infernal, cansativo e talvez mais abrangente do que passar por isso na primeira pessoa. É que, ao vermos os outros, revemo-nos a nós e tomamos alguma consciência da coisa, facto que geralmente não acontece quando somos nós os portadores da “coita”. Ufa! Ainda bem que as figurinhas que fazemos não têm o filtro da inteligência! Algo tem de sobrar (com alguma dignidade) dos destroços!