domingo, 24 de junho de 2007

"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons..."

Martin Luther King
“Queria acordar em África e adormecer na Índia, queria ter um sonho que não fosse proibido numa ilha do Pacífico, mas se um anjo me revelasse o teu nome, ia visitar-te ao paraíso, meu piquenique!”

A citação é minha, mas tem tantos anos que já a consigo ver de fora e pôr-lhe aspas…
Vamos aos factos: vou finalmente para África! É mais ou menos certo que acordarei e adormecerei no continente onde se toca o horizonte. E, de momento, não me apetece ir visitar ninguém ao paraíso…
Mas já fazia um piquenique… é só esperar que o Outono passe.

Interrogação Retórica

Ontem foi noite de enterro de espectáculo. Correu tudo dentro da normalidade. Sentimentos grandiosos iam mergulhando na clandestinidade do meu peito. A noção inequívoca do dever cumprido espalhava-se pela pele e terminava nas pontas dos dedos, onde unhas mal feitas escondiam a extensão dos últimos dias.
Estava preparada para tudo, mas esqueci-me de me preparar para o fim. Talvez nunca o consiga fazer, agora que penso nisso…
Em público, agradeceram aos meus pais pela minha existência. Disseram outras coisas, que gravarei cuidadosamente debaixo das pálpebras para que sejam náufragos, à passagem das lágrimas, mas nada que se compare com isso. Os meus pais estavam lá, algures na escuridão da sala. Não consigo adivinhar as suas expressões.
(Não consigo adivinhá-los no fim de tanto tempo).
Havia lágrimas, muitas lágrimas. Lágrimas com sabor a tudo. Lágrimas que só a intimidade permite.
Seremos sempre tanta gente nos momentos de maior intimidade?
Agora que penso nisso…

terça-feira, 19 de junho de 2007

Andreia

Esta etiqueta deveria chamar-se "mulheres do caralho!", mas como eu não gosto de palavrões, a Andreia cabe bem na etiqueta "Nome próprio".
À semelhança do resto do mundo, menos três pessoas, ela não só não faz ideia que este blog existe, como também não suspeita que eu não compreendo as mulheres e que isso me perturba. Por isso, também não me há-de levar a mal esta exposição pública do seu nome e do seu sinal no rosto e do seu cabelo muito preto e do seu olhar em forma de colina e... (mesmo que quisesse continuar não conseguiria completar o seu retrato, pois tenho uma péssima memória para características físicas, por isso, paro por aqui). O que interessa é que a Andreia (que eu mal conheço, que me conhece muito mal e há pouquissímo tempo) faz parte da minha vida e tem-me acrescentado tanto entusiasmo quanto medo, tanta surpresa quanto admiração, tantas dúvidas quantas certezas.
É muito através da Andreia que, pelo menos uma vez por semana, eu encontro o volume das minhas vontades.
Não sei se a compreendo inteiramente, mas lá que compreendo, concordo e aprendo imenso com ela... não tenho quaisquer dúvidas. Uma mulher impressionante, sem dúvida... A quem me apeteceu agradecer a existência, ainda que ela não saiba...

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Anagnórise

Quase toda a gente que conheço está assim a modos que apaixonada ou com vontade de ficar. Eu, por exemplo, incluo-me facilmente nas duas categorias.

Estou efectiva e tontamente apaixonada, mas, por alguma razão (que não me escapa), isso não me basta. O que eu quero é ter sempre muita vontade de... qualquer coisa. Perder a vontade é perder a razão, a paixão e fundamentalmente, o tesão. E eu, muito francamente, não me vejo sem estas três rimas básicas da vida.

Por outro lado, quando a coisa nos apanha muito de surpresa, o estalo é muito maior e a preocupação em concertar comportamentos e atitudes atenua-se bastante.

Eu quero ser assim a protagonista que, no momento exacto, reconhece a tal circunstância da paixão e isso causa uma mudança brusca e radical no seu destino. De preferência sob a perspectiva da comédia, segundo a qual essa transformação leva ao triunfo... (na tragédia leva à derrocada, e embora a minha inclinação pessoal seja mais para este género, por ora, dispensava...).



E pronto. Era isso. Uma anagnórise na minha vida ilibar-me-ia de responsabilidades imediatas sobre o meu futuro. Hoje não vai dar, mas um dia explico porquê.
(Mas isso só se eu tiver vontade de fazer qualquer coisa por este blog).

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Da janela em frente vê-se a minha janela

A persiana da janela da minha sala deixou de me obedecer há uns meses. Garanto que já tive uma mancheia de tentativas frustradas de a arranjar e outra mão cheia de escoriações!

Não tenho nada contra as transparências, mas da janela em frente vê-se o meu umbigo, e isso, mesmo que só lá de longe a longe, incomóda-me. O meu umbigo é assim uma espécie de janela para o meu interior. Há quem diga isso dos olhos, eu digo do umbigo...
E não era mais nada. Só isso. Está a pôr-se calor (finalmente!) e preferia não ter que me incomodar com o facto de ter ou não roupa no corpo, quando estou num espaço que é só meu.

Ah, isto das persianas era para dizer que, neste ponto preciso, compreendo perfeitamente esse aforismo proferido tantas vezes por tantas mulheres:"Um homem em casa faz muita falta"! - Faz sim senhora! E eu que o diga, que também tenho um problema com a máquina de lavar roupa e... tal.
Alguém se candidata a levar com meia hora de mau feitio?!...

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Mau feitio

Diz-se por aí que esta mulher tem mau feitio.
Até há pessoas que me apontam, quando eu passo, e dizem: "olha, lá vai aquela gaja mau feitio!"

"Gaja"??!!!...

... É que... nem vou comentar...

A compreensão também não é bem tudo...

Tenho um amigo. É um pouco tonto, mas eu compreendo-o muito bem!
O meu amigo tem uma amiga que não o compreende nada bem, nem ela a ele…
Fui chamada a intervir para mediar as incompreensões dos dois. Não a conheço, mas falei com ela durante uma boa meia hora. Percebia-se, pela forma como escrevia, que chorou algumas vezes durante a conversa.
Se, ao menos, ela tivesse compreendido porque é que eu o compreendia…
Isto já foi há três dias e, só agora é que me dei conta, que eles não precisam de se compreender… muito… Mas ainda não sabem.
Shiiiiiiiiuuu!

"Xmas qd kiseres"

Hoje já ouvi 22 vezes o "Last Christmas" dos Wham! e sou pessoa para ainda ouvir mais umas quantas vezes.
Que me importa que se espantem todos deste blog pelo gosto musical duvidoso. Se Natal é quando um homem quer, uma mulher também pode optar por ouvir Wham! quando muito bem entender!
Para além do mais, acho muita graça a uma banda cujo nome inclui um ! (só que agora não sei como raio pontuo esta frase)...
Chegaram visitas... Acho que vou mudar de música, pelo sim pelo não.

Bem, agora, a sério... (espero que ninguém tenha caído naquilo das 22 vezes...), "Xmas qd kiseres" é o nome de uma peça de teatro. Estreia dia 16, em Ponte da Barca, "essa bela localidade"... Era ver!...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Eugénia

Ela sabia que o dia germinava palavras de esperança, em forma de sussurro. Ela sabia que o vento cantava, quando todos lhe gabavam o sopro feroz. Ela sabia que o tempo acabava agora, quando todos começavam a entender o seu início. Ela sabia que as impressões digitais lhe camuflavam o desejo de falar. Ela sabia de cor as teclas da palavra "amor", da palavra "sentir", da palavra "viver".
Ela sabia inclinar-se sobre aquele nome, como se de um corpo nu se tratasse.
Ela sabia beber das palavras o som ébrio de um poeta andaluz. Ela sabia onde morava a angústia e visitava-a diariamente. Oferecia-lhe dois maços de tabaco, na esperança de a matar.
Ela sabia que este dia, à semelhança dos outros todos, teria um fim. Acariciou as pontas dos dedos com a memória do rosto que a perturba e, desfez a exactidão doméstica dos lençóis da cama. Ela talvez dormisse, se o soubesse fazer com tranquilidade.
Agora finge que acorda, só porque sabe que na sala de espera do olhar se encontra o mesmo nome nu, sobre o qual deposita o coração, antes de sair para a rua...

domingo, 3 de junho de 2007

Estrela cadente, desejo pendente.

Ainda há pouco vi uma estrela cadente e pedi um desejo. Peço sempre o mesmo desejo. Não sei se é por preguiça ou por falta de tempo para pensar noutra coisa, ou se é porque, de facto, o meu maior desejo é esse. E é sempre o mesmo há anos e anos, desde que me disseram que se devia pedir um desejo quando nos deparamos com esse fenómeno…
Havia outra pessoa ao meu lado. Disse que não pediu desejo nenhum.
Sorri. O meu desejo era suficiente para nós. Há-de ser sempre o mesmo. Há-de chegar sempre para mim e para os meus amores.
Talvez nunca o mude.
Talvez nunca mude este novo amor sem desejos.