segunda-feira, 4 de junho de 2007

Eugénia

Ela sabia que o dia germinava palavras de esperança, em forma de sussurro. Ela sabia que o vento cantava, quando todos lhe gabavam o sopro feroz. Ela sabia que o tempo acabava agora, quando todos começavam a entender o seu início. Ela sabia que as impressões digitais lhe camuflavam o desejo de falar. Ela sabia de cor as teclas da palavra "amor", da palavra "sentir", da palavra "viver".
Ela sabia inclinar-se sobre aquele nome, como se de um corpo nu se tratasse.
Ela sabia beber das palavras o som ébrio de um poeta andaluz. Ela sabia onde morava a angústia e visitava-a diariamente. Oferecia-lhe dois maços de tabaco, na esperança de a matar.
Ela sabia que este dia, à semelhança dos outros todos, teria um fim. Acariciou as pontas dos dedos com a memória do rosto que a perturba e, desfez a exactidão doméstica dos lençóis da cama. Ela talvez dormisse, se o soubesse fazer com tranquilidade.
Agora finge que acorda, só porque sabe que na sala de espera do olhar se encontra o mesmo nome nu, sobre o qual deposita o coração, antes de sair para a rua...

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