domingo, 24 de junho de 2007

Interrogação Retórica

Ontem foi noite de enterro de espectáculo. Correu tudo dentro da normalidade. Sentimentos grandiosos iam mergulhando na clandestinidade do meu peito. A noção inequívoca do dever cumprido espalhava-se pela pele e terminava nas pontas dos dedos, onde unhas mal feitas escondiam a extensão dos últimos dias.
Estava preparada para tudo, mas esqueci-me de me preparar para o fim. Talvez nunca o consiga fazer, agora que penso nisso…
Em público, agradeceram aos meus pais pela minha existência. Disseram outras coisas, que gravarei cuidadosamente debaixo das pálpebras para que sejam náufragos, à passagem das lágrimas, mas nada que se compare com isso. Os meus pais estavam lá, algures na escuridão da sala. Não consigo adivinhar as suas expressões.
(Não consigo adivinhá-los no fim de tanto tempo).
Havia lágrimas, muitas lágrimas. Lágrimas com sabor a tudo. Lágrimas que só a intimidade permite.
Seremos sempre tanta gente nos momentos de maior intimidade?
Agora que penso nisso…

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